quinta-feira, outubro 30, 2025

Os amigos de Delors


Hoje, na sessão de apresentação de um seu livro, em que revisita as quase quatro décadas da nossa integração europeia, em cuja primeira linha ele próprio se situa, Vitor Martins notou a "liga dos antigos combatentes europeus" que estavam espalhados pela sala. É verdade, e também podia qualificar-nos como "os amigos de Delors", em lugar de Alex, tal é a saudade que o antigo presidente da Comissão Europeia deixou e o facto dessa sua memória federar ainda a nossa adesão ao projeto integrador do continente.

Almoço de trabalho

 


De caras


No inicio de um encontro diplomático sobre cujo desfecho há muitas incógnitas, a regra é manter as caras fechadas para a fotografia. Quando, no final, há resultados a anunciar, distender as caras também é de regra. A exceção é sempre Xi Ji-Ping, com aquele esgar giocôndico onde se pode ler tudo.


quarta-feira, outubro 29, 2025

Chegou


Chegou há pouco. Agora, leitura com calma. Só depois se passará para a tradução portuguesa, para avaliar se está à altura. Cada coisa a seu tempo, porque com os clássicos não se brinca.

"Olhe que não, olhe que não!"


A situação política que se vive em França é o tema da conversa que esta semana eu e Jaime Nogueira Pinto temos no "Olhe que não, olhe que não!", na plataforma do jornal "24 Horas".

Pode ver aqui.

terça-feira, outubro 28, 2025

Royals

As trapalhadas de Andrew, entre as festas de Epstein e a revelação dos alojamento dos Windsor, convocam atenções para o estilo de vida dos "royals" britânicos. Nada que faça bem a uma monarquia onde a rainha tinha saído de cena em glória, com o sucessor a chegar sem sobressaltos.

segunda-feira, outubro 27, 2025

O soberano

Trump é um ilusionista. Mantém-nos entretidos com "números" diários. A imprensa odeia-o mas segue-o caninamente. Trump, que não é parvo, já percebeu que o mundo olha com sobranceiro desprezo o seu deslumbre pelos dourados e outras saloiices, mas sabe que o soberano é ele.

A lei do boato

A prova do imenso poder das redes sociais é a dificuldade enfrentada pela família presidencial francesa para contrariar as ridículas alegações sobre a sexualidade da mulher de Macron. Dos EUA a França, o boato continua a espalhar-se, de uma forma até agora intravável.

A palavra dos embaixadores


Há 30 anos, quase dia por dia, desembarquei, ao lado de Mário Soares, no aeroporto de Telavive. À nossa espera estava o nosso embaixador em Israel, Paulo Barbosa. Eu era, desde há uma semana, secretário de Estado dos Assuntos Europeus do novo governo socialista. 

O Paulo era mais velho, desde logo como colega de profissão. Embora sem uma grande proximidade pessoal, conheciamo-nos já da nossa juventude, de Viana do Castelo, onde estavam as nossas famílias, onde ele nascera e eu passava férias. Nos vinte anos que eu levava de casa, a nossa relação mantinha-se excelente.

Logo que teve uma ocasião, naquelas horas sempre confusas de uma visita presidencial, o Paulo colocou-me uma questão: "Estão a pedir-me uma entrevista para um importante jornal de cá, sobre esta visita do Soares. O que é que te parece? Achas que posso aceitar falar?" 

Lembro-me como se fosse hoje. Respondi-lhe, a sorrir: "Podes falar à vontade! Com este governo de que faço parte, ao contrário do que antes se passava, os embaixadores serão estimulados a falar à imprensa. Partimos do princípio de que um embaixador sabe o que pode ou não dizer, sendo naturalmente responsável pelo que decide transmitir. Por isso, se achares que é útil, dá a entrevista". Só para lembrar: o anterior tempo governativo, de uma década, tinha sido do PSD. 

Ao longo dos mais de cinco anos que estive nesse governo, não me recordo de ter tentado coartar alguma vez a expressão, em termos de diplomacia pública, a qualquer dos nossos embaixadores. Se eles eram considerados de confiança para representar o Estado no exterior, naturalmente que deveriam, se considerassem que isso era útil para a defesa do interesse do país, expressar-se publicamente quando o entendessem. 

Constatei que muitos o não faziam, talvez para não correr riscos ou porque tivessem falta de à-vontade para falar à comunicação social ou, simplesmente, porque assim entendiam dever proceder. Tenho a certeza de que Jaime Gama, que foi nosso ministro em todo esse tempo, pessoa com quem curiosamente nunca abordei este assunto, nunca alguma vez "tapou a boca"a alguém.

Finda essa minha "comissão de serviço" no governo, regressei, por 12 anos consecutivos, à minha qualidade de diplomata, sendo embaixador em três organizações internacionais e em duas importantes embaixadas bilaterais. Dei então todas as entrevistas que entendi dever dar - a jornais, a rádios e a televisões -, em todos os postos onde trabalhei. Repito, todos: incluindo a ONU e a OSCE, para que conste, ao tempo de um governo PSD/CDS. E publiquei também entretanto quatro livros, sem que alguma vez me tivesse passado pela cabeça pedir um "imprimatur" a Lisboa.

No termo do tempo que passei no Brasil como embaixador, publiquei um quinto volume, com quase 400 páginas, com muitos artigos e transcrição de algumas entrevistaa que aí tinham ocorrido.

Com uma única exceção (em que entendi inquirir sobre a oportunidade de um artigo que me fora solicitado para o "Financial Times"), nunca, nessa dúzia de anos de trabalho, me ocorreu pedir a Lisboa autorização para falar ou escrever.

Um dia de 2011, ao tempo em que era embaixador em Paris, depois de ter publicado no mais importante jornal económico francês um artigo em que defendia a posição oficial portuguesa, nesse tempo de pré-troika e de resgate financeiro em curso, chegou-me, por uma via ínvia, a questão sobre se eu tinha "pedido autorização" para publicar tal artigo. Noto que não se tratava de pôr em causa o seu conteúdo, mas sim o aspeto formal da autorização. O governo, também para lembrar, era PSD/CDS.

Pela mesma via "ínvia", mandei dizer que, da mesma forma que fazia parte das minhas competências falar com o governo francês e com os meus colegas estrangeiros sobre a situação em Portugal, integrava naturalmente essas mesmas competências expressar-me junto da imprensa, das rádios e das televisões - como fazia há semanas. Assim, "salvo instruções em contrário" (uma expressão que costuma irritar as Necessidades), continuaria a atuar publicamente como melhor entendesse, sempre sem pedir instruções "à Secretaria de Estado" (modo como, quando no estrangeiro, nos referimos aos serviços centrais em Lisboa). E assim fiz, até ao meu último dia de serviço.

Os embaixadores devem ser avaliados "a posteriori" pela sua atuação, não são "locutores de continuidade" à espera do teleponto. Apeteceu-me dizer isto hoje.

A política no Japão


No "A Arte da Guerra" desta semana, o jornalista António Freitas de Sousa e eu falamos das mudanças políticas no Japão e das consequências possíveis no rumo do país.

Pode ver aqui.

domingo, outubro 26, 2025

Again?!


A edição de um livro que é um chorrilho de banalidades já fazia temer o pior! Agora veio o anúncio. O Partido Democrático americano está mesmo com azar! E, com ele, a América e o mundo.

Costas largas

Está a entrar na moda um substituto do estafado "A culpa é do Passos". Agora diz-se "A culpa é do Costa".

sábado, outubro 25, 2025

Encarnados

Goste-se ou não do Benfica - e eu não gosto -, há que convir que o número de votantes nas suas eleições é impressionante.

Digo eu, não sei!

Lendo o que por aí vai saindo sobre o elevador da Glória, com todas as dúvidas e interrogações técnicas que só tendem a crescer, a probabilidade daquele veículo de transporte entre os Restauradores e o Bairro Alto voltar a funcionar começa a ser bastante remota.

Mais rigor

É claro que é uma excelente notícia que uma gestora altamente qualificada vá assumir a presidência de um grande banco em Portugal. Mas releva do preconceito dizer que isso é um caso inédito, esquecendo a atividade bancária, com "governance" discutível, é certo, da Dona Branca.

A cunha na hora


Foi há precisamente nove anos. Tal como acontecerá daqui a pouco, a hora mudava nessa noite.

Aquela figura da "Geringonça" olhou para mim com um ar perplexo, quando deixei cair, em conversa, que podia estar interessado num determinado cargo oficial. 

Essa pessoa ouvira-me, desde há muito, jurar a pés juntos que não estava disponível para exercer qualquer lugar no âmbito do Estado. E alguns tinha recusado. Por isso, alguma coisa não batia certo.

- Eu era capaz de aceitar uma certa função oficial. Que julgo não ser remunerada, note-se...

Bom, isso já podia ter algum sentido, deve ter ele pensado, julgando que eu estava a meter uma discreta cunha para algum lugar de prestígio.

- É um cargo que, posso dizer agora, ambiciono desde há cerca de três décadas.

Isso atirava para os anos 80. A pessoa pediu-me que concretizasse. Mandei vir mais um whisky e anunciei:

- Era para membro da Comissão Permanente da Hora.

"Comissão Permanente da Hora"?! O que faz essa comissão? Expliquei, com ar de quem sabe da poda, que, por lei, compete a essa Comissão "estudar, propor e fazer cumprir as medidas de natureza científica e regulamentar ligadas ao regime de Hora Legal e aos problemas da hora científica" (não disse isto com esta precisão, claro). 

Ora eu tinha reparado, há muito, numa falha na lei: era inconcebível que o Ministério dos Negócios Estrangeiros não estivesse representado nessa comissão, pelas implicações que o regime da hora legal tem nas relações internacionais e na ligação com as instituições comunitárias. Impunha-se, desde logo, uma revisão da legislação nesse sentido.

- Tem lógica, disse ele. 

Mas, pondo os pés na terra, logo refletiu: mas por que é que eu queria esse lugar, um lugar não remunerado, numa ignota comissão que reunirá, talvez, uma vez por ano? E o que é que eu sabia do assunto para me qualificar para essa função? 

Pacientemente, expliquei que tinha passado por mim, noutros tempos, a questão do regime europeu da hora, pelo que sabia tanto ou mais do assunto como qualquer outra pessoa do MNE.

- Lá isso é verdade. Mas estás mesmo a falar a sério? Queres o lugar?

O Luís já me tinha trazido o Bushmills novo, sem gelo, em copo normal, que ele sabia que eu queria, para a mesa do Procópio onde estávamos. Fiz pose e dei um trago.

- Claro que sim e agora tenho mais tempo, o que deve ser importante para um organismo que trata precisamente das questões da hora... 

- Mas, se o MNE não tem lá um representante, seria necessário mudar a lei. E o governo teria de decidir isso. Pode demorar...

- "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo".

- Bela frase! É tua?

- Não, é do Saramago.

O assunto não andou para a frente, claro. Fiquei sempre na dúvida sobre se esse meu amigo acreditou mesmo no que lhe disse. É que, na "mesa dois" do Procópio, entre aa coisas ditas a sério e as que pareciam brincadeira havia uma zona cinzenta que só um mestrado em ironia permitia esclarecer.

Só eu é que tenho tempo para estas brincadeiras. Mas, pensando bem, ter num cartão de visita "membro da Comissão Permanente da Hora" dava cá um sainete!

"Olhe que não, olhe que não!"


Mensagem recebida há pouco, de um amigo, que assistiu às duas primeiras emissões do "Olhe que não, olhe que não!", no 24 Horas "As tuas conversas com o Jaime fazem-me lembrar as que se tinham a volta da mesa do jantar em casa dos meus pais quando ainda não havia televisão. Belo formato!"

Gaza


Aqui fica uma avaliação da atual situação em Gaza, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal do "Jornal Económico", uma conversa entre mim e o jornalista António Freitas de Sousa.

Pode ver aqui.

O filósofo do olhar


Tínhamos falado pelo telefone, há meses. Conheci-o há dois ou três dias. Queria fazer uns retratos meus para integrar numa exposição que vai organizar. Como me tinha lido, na véspera, a gabar-me de ter comido uma dúzia de castanhas assadas em menos de 24 horas, disse-me para não me esquecer de levar algumas para a sessão fotográfica. 

Cheguei lá de mãos a abanar. Não há castanhas assim à mão de semear por essa Lisboa. Fomos falando, à medida que a máquina ia disparando. Depois, a surpresa. Já tive muitas fotografias de estúdio na vida, mas nunca ninguém me tinha dito, a certo passo, para ir dizendo mentalmente um poema, enquanto estava a ser fotografado. Não era preciso declamar, bastava "falá-lo" interiormente. Que poema escolhi? "As mãos". Ontem, mandou-me uma fotografia: "Escolheu Manuel Alegre e no instante certo o cabo disparador foi accionado. Eis o resultado!" É curioso: aquela imagem, que guardei, ficará sempre associada ao poema que então eu dizia para dentro. Passa a ser uma fotografia com moldura poética.

Horas depois enviou-me outra. Nessa, eu estou com um olhar estranho. Disse-lho. Retorquiu, por mensagem: "O retrato capta quem somos, quem podemos ser, quem estamos quase a ser e também o que poderíamos ser". Caramba! Retratos assim poucos se podem dar ao luxo de ter. Só os não reproduzo aqui, como fui autorizado a fazer, porque não.

O retratista chama-se Veríssimo Dias. Teve uma vida por mundos que já foram outros, nota-se que adora o que faz, embora a sua faina profissional de base fosse distante da fotografia. Talvez por isso, faz esta magnificamente, de forma leve, natural, com um rigor suave, por onde perpassa um sentido estético de exigência. 

Às vezes, a vida ainda nos surpreende. Foi o caso.

sexta-feira, outubro 24, 2025

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no "A Arte da Guerra", do Jornal Económico, falo sobre as razões que estarão por detrás do adiamento do encontro em Trump e Putin, que estava previsto, embora sem data definida, para ter lugar em Budapeste.

Por ver aqui.

What seems to be new

Everyone knows Donald Trump’s opinions are like yogurt: they don’t keep long and can turn sour fast. We also know that facts have a way of quickly overturning expectations. That said, and without wanting to sound naive, it’s fair to admit that in all the spectacle around America’s renewed involvement in the Middle East, two genuinely new things have appeared.

First, Trump’s plan for Gaza — the one he sold to those who will pay for it — does not call for Palestinians to be driven out of the territory. Go back a few months and you’ll see this was anything but guaranteed. The second concerns the West Bank: the firmness with which J.D. Vance and Marco Rubio rejected the expansionist ideas aired in the Knesset may have closed the door on “Greater Israel.” That already signals a pushback against new settlements — something quite new in the American stance, judging by decades of UN voting records.

Trump, whether out of vanity or calculation, has drawn up — or bought — a plan that seems, at first glance, to free him from simply following Israel’s lead. After the massacre in Gaza, Israel may be realising it went “a bridge too far.” Right now, it looks as if Netanyahu hopes that Hamas — or some “false flag” actor on Israel's behalf — will hand him a pretext to break the ceasefire.

On another front, by citing geostrategic reasons that Washington might find hard to ignore — not least to keep military aid flowing — Israel may be tempted to mount new operations in its usual zones of its impunity: Lebanon, Syria, Yemen, perhaps even Iran. Those could serve as a distraction. 

For the moment, this may be a somewhat uneasy time for Israel’s leadership, less free than usual to manage what has long been its quiet dream — the “living space” of the Jewish state. It’s an idea that, recalled with a bit of cold clarity, is worth remembering.

Eu comemoro!


As Nações Unidas fazem hoje 80 anos. É irónico que as potências às quais foram dadas, desde a criação da organização, especiais responsabilidades no seu funcionamento, façam hoje parte de uma espécie de aliança para a sua paralisia. 

As Nações Unidas são uma reserva de autoridade moral no plano internacional que o mundo não pode dispensar. O papel extraordinário que a organização e as suas estruturas e agências desempenham hoje pelo mundo surge obscurecido pela impotência que lhe é imposta por quantos querem ter as mãos livres para atuar, não apenas à sua revelia mas, essencialmente, pondo de lado os seus princípios.

Neste dia - que eu comemoro! - deixo um abraço de amizade a essa figura de bem que é António Guterres, nele representando todos os portugueses que atuam no seio da ONU, com um destaque conjuntural para Jorge Moreira da Silva, pelo seu extraordinário empenhamento no minorar da tragédia de Gaza.

O que parece novo

Todos sabemos que as opiniões de Donald Trump são como os iogurtes: têm prazo curto de validade e podem acidular com facilidade. E também sabemos que a realidade dos factos pode, de um momento para o outro, infirmar qualquer esperança criada com ligeireza. 

Dito isto, e sem querer correr o risco de ser ingénuo, há que convir que, em todo o espetáculo que envolve o novo empenhamento americano no Médio Oriente, surgiram duas coisas realmente novas. 

A primeira, é o facto do plano para Gaza, que Trump vendeu a quem o vai pagar, não implicar a saída dos palestinos desse território. Andemos para trás uns meses e logo concluiremos que isto estava longe de adquirido. 

A segunda, tem a ver com a Cisjordânia: a firmeza com que o J.D. Vance e Marco Rubio rejeitaram as ideias expansionistas que emergiram no Knesset pode ter fechado a porta ao "grande Israel", o que significa, desde já, uma implícita oposição aos novos colonatos - coisa verdadeiramente nova na atitude americana, bastando olhar para as votações na ONU sobre o tema nas últimas décadas. 

Trump, por vaidade ou por tática, desenhou ou comprou um plano que, à primeira vista, pode tê-lo libertado de se colocar a reboque do comportamento de Israel. Com o massacre cometido em Gaza, Israel deve estar agora a perceber que avançou para "a bridge too far". 

Por esta altura, tudo indica que a esperança de Netanyahu é que o Hamas, ou alguém em "falsa bandeira" por ele, lhe dê um pretexto para romper o cessar-fogo. Noutra dimensão, invocando razões geoestratégicas a que Washington possa ser sensível, até para manter o fluxo da ajuda militar, Israel pode vir a desencadear ações com alguma espetáculo nos seus mercados tradicionais de impunidade - Líbano, Síria, Iemen, quiçá Irão - que lhe possam servir como fator de diversão. 

Por ora, este pode estar a ser um tempo algo desconfortável para a liderança israelita, menos à vontade para gerir, com a liberalidade habitual, aquilo que, lá no fundo, alimentava ser o sonho do "espaço vital" do Estado judaico - pedindo de empréstimo um conceito que, com total frieza, seria útil reavivar na sua memória.

Pim?


Que pensaria Almada das suas paredes do "Diário de Notícias" a servirem de fundo a estas vestes de luxo? Se calhar, até gostava! A ver bem, aquilo passa-se na "Liberdade" e os produtos parece serem esteticamente muito decentes. E a vida tem de continuar, na casa que já foi da Moagem e de tantas e desvairadas gentes.

O Estado de que eles gostam


Privar o Estado das pessoas mais qualificadas, através da oferta de salários não competitivos para os seus quadros dirigentes é uma forma hábil de enfraquecer esse mesmo Estado. 

Depois, fica-se à espera de que as pessoas se queixem de que "o Estado não funciona". 

É fácil, não é? 

quinta-feira, outubro 23, 2025

Astérix


Está aí a chegar o Astérix que nos é dedicado - "Astérix en Lusitanie". Já estou a ver certos sobrolhos de patrioteirismo, a indignarem-se com alguns "clichés". Desejo-lhes a pior sorte. Cá por mim, já mandei vir a versão francesa original, até para poder compará-la com a tradução que por cá foi feita. Um novo Astérix todos os outonos (com algumas falhas) é um hábito francês quase tão regular como o Beaujolais nouveau - só que este sabemos que é sempre um vinho sofrível. Pelo contrário, Astérix pode ter alguns anos menos bons - mas os bons são muitos, quase sempre excelentes para nos pôr bem dispostos.

Muito cuidado!

Os serviços de informação portuguesa vão fazer um amplo recrutamento, tendo em conta o défice em matéria de recursos humanos que afeta aquela estrutura do Estado. Desejo muita sabedoria no processo: numa área tão sensível, o extremo rigor na seleção é essencial.

quarta-feira, outubro 22, 2025

Anti-colonialismo

Manuel Alegre vai receber uma distinção do governo angolano. Muito bem! Há décadas que clamo contra a falta de reconhecimento, da parte dos países africanos de expressão portuguesa, face a quantos, em Portugal, combateram o colonialismo, arriscando a sua própria liberdade.

Agora, na hora da morte

Há horas, depois de falar na SIC da figura de Francisco Balsemão, dei comigo a pensar que, na hora da morte de um político, contam menos as palmas de quem ideologicamente dele esteve próximo e, muito mais, as palavas de respeito de quem estava distante de algumas das suas ideias.

"Olhe que não, olhe que não!"


Esta semana, Jaime Nogueira Pinto e eu falamos da agenda de Donald Trump, na sua forma e no seu conteúdo. 

Pode ver aqui.

Balsemão



Não pretendo fazer aqui um obituário completo de Francisco Pinto Balsemão. Outros o farão bem melhor do que eu. Deixarei apenas algumas notas pessoais.

Com a morte de Balsemão, desaparece alguém que era a personalidade viva mais destacada de quantos fizeram a transição entre o período mais aberto da ditadura com os mais de cinquenta anos de democracia que lhe sucederam.

Desde que começou a ter atividade política, Balsemão mostrou sempre ser um democrata, pelo que a sua entrada no regime que saiu do 25 de Abril se fez com total e indiscutível naturalidade.

Deputado da União Nacional (mas não da sua sucessora, a Ação Nacional Popular), soube, com imensa dignidade, tal como Sá Carneiro, afastar-se de Marcelo Caetano, para não servir de alibi liberal (a palavra liberal tinha, por essa altura, bom nome e era usada na aceção anglo-saxónica) a um regime autoritário que recusava devolver a liberdade ao país. Balsemão bateu com a porta e isso dignificou para sempre a sua história pessoal.

Para mim, contudo, quase tão importante como o político, Francisco Pinto Balsemão acabou por ser o notável criador, ainda em 1973, dessa "pedrada no charco" no jornalismo português que foi o "Expresso". Balsemão nunca escondeu a sua costela de jornalista e acho que sempre considerou essa faceta como um dos aspetos centrais da sua vida. Devemos-lhe também a SIC e, com ela, um grupo de comunicação social, a Impresa, que, nos dias de hoje, estará, ao que se sabe, a atravessar tempos muito difíceis.

Ao longo da vida, cruzei-me muitas vezes com Francisco Pinto Balsemão, com quem criei uma excelente relação pessoal e a quem só devo simpáticas atenções. Quando passei pelo governo, conversámos muitas vezes sobre as implicações europeias do negócio mediático, tema que o apaixonava e em que se tornou um especialista. Em 2012, ambos fizemos parte do grupo de trabalho, nomeado pelo governo, que preparou o Conceito Estratégico de Defesa Nacional, para vigorar na década seguinte. Depois, ambos trabalhámos, por alguns anos, num conselho consultivo dentro da Universidade Nova de Lisboa, por ele presidido. Há tempos, quando lançou, na cidadela de Cascais, uns encontros anuais de reflexão estratégica, teve a simpatia de ser o moderador da sessão de abertura do primeiro desses debates, sobre a Europa e o mundo, entre Carlos Moedas e eu. A seu convite, tive o gosto de apresentar no ISCTE um livro de que foi co-autor com o político cabo-verdeano José Maria Neves. Salvo raras ocasiões sociais, vimo-nos pouco desde então.

A democracia portuguesa fica de luto, com a morte de Francisco Pinto Balsemão. Digo-o com a maior sinceridade e respeito. Quem me conhece sempre me ouviu afirmar, desde há muitos anos, que ele era das escassas personalidades da direita portuguesa em quem eu poderia ter votado para Presidente da República.

Deixo as minhas condolências à família de Francisco Pinto Balsemão.

terça-feira, outubro 21, 2025

Homenagem ao Elísio


Durante muitos anos, Elísio Amaral Neves ajudou a cidade de Vila Real a ter orgulho na sua cultura, conseguindo trazer ao de cima coisas que muitos nós nem suspeitávamos que podiam fazer parte da nossa identidade e história coletiva. Em todas as áreas onde interveio, o Elísio foi sempre um marco de empenhamento e de rigor. 

A cidade, que muito lhe deve, prestou-lhe já a homenagem municipal devida. O país, que não está tão desatento quanto por vezes julgamos, consagrou-o com uma distinção ao mais alto nível.

Faltavam os amigos. Pedindo-lhe agora de empréstimo uma "História ao Café", vamos organizar uma charla sobre ele. Será uma coisa não muito longa, bem disposta, que até mete alguma música. Esta foi a maneira que encontrámos  - um pequeno grupo de amigos, dos muitos que ele tem - para lhe retribuir um pouco daquilo que ele proporcionou a todos nós.

Convidamos a que se juntem a nós pelas 18 horas de sábado, dia 8 de novembro, na Biblioteca Municipal de Vila Real.

segunda-feira, outubro 20, 2025

Olrik na terra dos coronéis


O meu amigo Fernando Pinto do Amaral suscitou no Facebook a pertinente possibilidade do assalto de ontem ao Louvre ter sido levado a cabo pela mão tenebrosa do coronel Olrik. Se o leitor não sabe quem foi Olrik - quem é e quem eternamente será - talvez não valha a pena continuar a ler este texto.

Contudo, o que hoje quero aqui trazer é uma outra questão. Desde os anos 50 do século passado, altura em que me iniciei nas aventuras de "Blake e Mortimer", Olrik manteve a patente de coronel. No fundo, há ali alguma injustiça. Que diabo! Não há promoções na terra de Olrik? Não digo chegar a general, como o Alcazar, mas ao menos a brigadeiro! 

Esta coisa dos coronéis foi sempre, para mim, um mistério. Já repararam que figuras relevantes de alguns regimes políticos, sustentados "manu militari", nunca passaram de coronéis? Olhe-se para os casos de Boumédiène, de Kadhafi, de Hugo Chávez ou mesmo de Papadopoulos - simbolo do "regime dos coronéis". Nenhum deles foi promovido. Porquê?

Olrik foi assim vítima de uma injustiça de carreira? Mas, vendo bem, o seu eterno inimigo Blake também! Militarmente, nunca saiu da "cepa torta". Imagino que já deva haver já uma tese de doutoramento algures sobre este importante tema!

domingo, outubro 19, 2025

Outros roubos


Bons tempos em que, lá pela França, os roubos eram outros.

Começou a época!


Em dois dias, já cá cantam duas dúzias! (Já terá sido inventada uma maquineta para descascar as mais renitentes?)

Ukraine under pressure

Recent signals indicated that President Trump had resolved to ramp up military equipment sales to European nations, intended for transfer to Ukraine, a move aimed at benefiting the U.S. arms industry and bolstering American economic interests. Yet, he abruptly reversed course on supplying long-range missiles following a conversation with President Putin, who reportedly convinced him that such weaponry in Ukrainian hands posed an existential risk to Russia.

Despite his reputation for unpredictability, Trump recognizes the peril of empowering a desperate Ukraine to escalate the conflict to a level that would compel direct U.S. involvement—whether conventional or otherwise. In this respect, his caution echoes that of President Biden, who has historically intervened to prevent any escalation—deliberate or accidental—that could force NATO into open war. Experience within the Pentagon underpins such strategic restraint.

Meanwhile, President Zelensky is reportedly lobbying European allies with urgency, fearful of the concessions he may be pressured to accept in prospective negotiations in Budapest. It appears Trump has made clear that territorial losses will be a feature of any final settlement.

Europe today lacks the leverage to block Trump’s strategic agenda but will likely push back. Emboldened by successes in Egypt, Trump seeks to close the Ukraine dossier swiftly, requiring Russia to make formal concessions to seal the deal. What Russia might concede remains an open question.

Finally, Trump is eager to resolve both the Gaza and Ukraine conflicts ahead of his anticipated summit with President Xi Jinping, as his overarching geopolitical focus turns toward countering China’s rise. Clearing these fronts will afford Washington greater freedom to address its principal strategic competitor.

"Cumué", Néné?!


Saiu da cena da vida, ao que acabo de saber pelo Armindo Quinteira, o Nené (Carlos Correia, de seu nome). Na imagem, numa festa do liceu, está entre o Quinteira e o Olívio, com o Coroliano a surgir por detrás.

O Néné era irmão gémeo do Jujú, filhos do senhor Carlos da sapataria. Entrámos juntos para as aulas do professor Pena, na Escola do Trem, nos idos de 1954. Juntos seguimos para o liceu. Anos mais tarde, a geografia das vidas separou-nos o quotidiano. O Jujú foi para o Porto. O Néné ficou em Vila Real, onde tinha a sapataria com o nome do pai. A amizade com ambos os irmãos manteve-se, para sempre.

Por muitos anos, quando regressava a Vila Real, mantive um agradável ritual de visita a lojas comerciais onde tinha pessoas amigas, alguns de infância e juventude, outros da idade adulta: o Tito Gomes da dita Gomes, o Neves da Pompeia, o João Nascimento oculista, o Bragança dos jornais, o Jorge Santoalha dos tecidos, o Euclides da funerária, o Eduardo dos eletrodomésticos, o Pires fotógrafo, o Salgueiro da relojoaria, o Alonso da Real, o Néné da sapataria, o Eduardo da papelaria, o Carvalho da drogaria, o Alfredo Branco da livraria, o Zé Macário fotógrafo, o Dr. Otlílio da Setentrião, a Rosa das castanhas, o Joaquim Mesquita da farmácia, o Zé Araújo das antiguidades, o Fernando Choco dos jornais, o Albertino Ribeiro das ferragens e alguns outros. Esse ritual foi variando e esmorecendo, quase sempre ao ritmo da desaparição das pessoas.

Na sapataria do Néné, ao pé da capela nova, eu entrava e atirava-lhe a mesma pergunta, uma expressão local que não era para ter nenhuma resposta: " 'Comué', Néné?!" Lá vinha um abraço, uns minutos breves de conversa - até ao outro Natal ou à Páscoa ou ao verão. Um dia, dei conta que as montras da sapataria do Nené passaram a estar fechadas com jornais. Perguntei por ele. Andaria doente.

E agora: "Comué, Néné?!"

sábado, outubro 18, 2025

Quando um palerma ...


... lhe vier falar na "invasão" islâmica de Portugal e na teoria da "grande substituição", se acaso ele souber ler, o que duvido, mostre-lhe esta estatística onde se constata, na sétima posição, a "ameaça" da comunidade muçulmana mais representativa entre os imigrantes  - a comunidade do Bangladesh. 

Na minha terra, a quem vinha com argumentos deste calibre costumávamos dizer: "quem te atasse um arado!"

Já não tenho saúde para isto...

 


Se calhar é verdade...

Ouvido ontem: "Portugal é um paraíso para os estrangeiros ricos e um inferno para os portugueses pobres".

Da série "Antes é que era bom!"


Lembrar quando os portugueses "viviam habitualmente" na paz do senhor de Santa Comba.

É tão simples!

A questão é de segurança coletiva e de transparência cidadã: quem circular no espaço público, salvo em tempos de emergência sanitária, tem de poder ser identificado através da visualização da sua cara. Levar a questão para o terreno religioso é uma cretinice.

A Ucrânia em sete pontos

1. Sinais recentes pareciam indicar que Trump tinha decidido incrementar a venda de material militar aos europeus, destinado a ser cedido à Ucrânia, porque isso favorecia as indústrias de armamento dos EUA, sendo assim um excelente negócio.

2. Subitamente, Trump recuou no fornecimento de mísseis de longo alcance, depois de nova conversa com Putin. Porquê? Uma das razões pode ter sido o facto do líder russo o ter convencido de que o uso potencial desse armamento pela Ucrânia colocava, de facto, um risco existencial para a Rússia.

3.  Por muito que se considere Trump um líder errático, ele percebe que não pode colocar nas mãos de uma Ucrânia desesperada a hipótese de forçar a subida da guerra para um patamar de confronto em que a resposta seguinte envolveria necessariamente os EUA - a nível convencional ou superior.

4. Curiosamente, Trump reage um pouco como Joe Biden. Este sempre que temeu que uma escalada (deliberada ou por "falsa bandeira") pudesse vir a mudar a qualidade da guerra, obrigando a uma resposta NATO, i.e., dos EUA, travou quaisquer aventuras. O Pentágono tem uma imensa experiência. 

5. Por estas horas, Zelensky deve estar a fazer grande lóbi junto dos seus amigos europeus, porque está em pânico em face daquilo que pode ter de vir a aceitar em Budapeste. Trump já lhe deve ter dito que, no "end game", estará a perda de território. Ponto.

6. A Europa não tem hoje a menor capacidade para travar os desígnios de Trump, mas aposto que vai ainda tentar reagir. Mas Trump, adubado pelo êxito no Egito, quer fechar já o ciclo com um acordo para a Ucrânia. Para tal, a Rússia vai ter de "perder" algo formal, para compôr o ramalhete. O que será?

7. Trump está desejoso de fechar os dossiês Gaza e Ucrânia, antes do encontro com Xi. Porque a sua preocupação maior se chama China. Quer assim ter, rapidamente, as mãos livres nos restantes cenários geopolíticos para se dedicar a essa ameaça competitiva à liderança americana.

sexta-feira, outubro 17, 2025

Raízes


Há muitos anos, constou nos cafés de Lisboa - onde as coisas constavam ... - que um livro de História tinha sido recolhido das livrarias pela Pide. 

Imagino que alguns, ao saberem disso, devam ter especulado sobre se não seria uma apologia disfarçada da Revolução Russa ou uma obra glorificadora da nossa Primeira República, tema de desestimação que era diabolizado e considerado quase herético pelo salazarismo. No limite, poderia também tratar-se de uma defesa do liberalismo vitorioso contra o Antigo Regime miguelista, matéria que o ensino oficial teimava em não abordar, por ser uma derrota histórica que o reacionarismo no poder não digeria com facilidade.

Foi-se a ver: era uma obra sobre a Idade Média! Sobre a Idade Média?! O autor era o historiador António Borges Coelho e o livro, aliás não muito volumoso, chamava-se "Raízes da Expansão Portuguesa". Sou feliz proprietário dessa rara 1ª edição.

O "crime" era defender uma leitura das motivações da aventura ultramarina portuguesa que contrariava a hiperbólica narrativa que a ditadura desejava que fosse a visão única sobre esses factos. Ao sublinhar motivações economicistas a sobreporem-se ao anseio da expansão da fé e da cristandade, a obra de Borges Coelho tocava num tabu sensivel.

Proibir um livro de história medieval era um ato censório de indizível estupidez. Mas a ditatura era isso mesmo: estúpida e mesquinha. 

No dia de hoje, com 97 anos, morreu António Borges Coelho. Tive o gosto de com ele falar apenas duas ou três vezes. Uma delas foi numa bela almoçarada numa praia alentejana, organizada por Carlos Eurico da Costa, em meados dos anos 70 do século passado, onde recordo Cardoso Pires entre os convivas. Borges Coelho e eu evocámos então das nossas mútuas origens transmontanas. Ele era de Murça.

Para todos nós, fica a sua obra. Para ele, acabou por ficar a justiça que a universidade portuguesa acabou por fazer à sua qualidade académica e intelectual.

quinta-feira, outubro 16, 2025

Gozar ?

Trump vai encontrar Putin na terra de Orbán. Na véspera, o seu alucinado ministro da tropa tinha dado sinais aos atarantados colegas da NATO de que Washington ia endurecer a posição face à Rússia. Até parece que Trump anda a gozar com a malta.

"A Arte da Guerra"


Esta semana, em "A Arte da Guerra", com António Freitas de Sousa, analiso a situação política em França, as propostas de paz de Trump para Médio Oriente e os jogos tarifários entre os EUA e a China, quiçá com a Rússia como efeito colateral.

Pode ver aqui.

quarta-feira, outubro 15, 2025

Ação climática


Foi uma animada mesa-redonda aquela que, ao fim da tarde de hoje, o Clube de Lisboa / Global Challenges organizou no magnífico Museu de Lisboa, no Palácio Pimenta, sobre "A ação climática entre agendas nacionalistas e tensões geopolíticas".

Duas dezenas de especialistas e outras pessoas interessadas aceitaram participar e intervir neste exercício. 

A apresentação inicial foi feita por Kalil Cury Filho, um especialista brasileiro com uma experiência em projetos de infraestrutura, desenvolvimento de negócios e sustentabilidade corporativa. Helena Freitas, catedrática da Universidade de Coimbra, e Bernardo Ivo Cruz, docente universitário e diretor do Clube de Lisboa, comentaram depois a apresentação, abrindo uma discussão que envolveu vários participantes. 

Tínhamos previsto duas horas, mas o entusiasmo dos presentes fez com que esquecêssemos o tempo...

Um belo e muito útil fim de tarde!

Quem nunca ... ?


Um comboio da CP deixou ficar para trás uma carruagem! E logo houve quem se tivesse mostrado escandalizado. Há gente tão sectária! Perder um elevador na Glória ou uma carruagem no Alentejo não é sinal de incompetência nem de descuido com o material. Vendo bem, pode acontecer a qualquer um...

Chamar os bois...

Se a filosofia do trumpismo fosse expressa na Europa, a imprensa dar-lhe-ia o nome daquilo que ela é: extrema-direita. Em Portugal, tal como no caso do Chega, usam-se para ela prudentes circunlóquios semânticos: populismo, direita "radical" e coisas fofas assim. Será por medo?

terça-feira, outubro 14, 2025

"Olhe que não, olhe que não!"


Hoje, no "24 Horas", foi editado o primeiro programa "Olhe que não, olhe que não!", uma conversa sempre deliberadamente "caótica", entre mim e Jaime Nogueira Pinto. Falámos da geografia das Revoluções em Portugal e de alguns dos seus atores. 

Veja aqui.

Só para lembrar

A quantos aplaudem que os EUA tenham imposto um cessar fogo em Gaza, lembraria que, desde há décadas, a América aceita que Israel incumpra as resoluções da ONU que tentavam proteger os direitos dos palestinos e alimenta a máquina militar que chacinou dezenas de milhares em Gaza.

Crimes de guerra

Uma figura acusada de crimes de guerra não deixa de o ser apenas pelo facto da guerra ter eventualmente acabado ou sido suspensa. Os acusados de Nuremberg não deixaram de ser condenados só porque o conflito terminou. Portugal, subscritor do TPI, deve lembrar isto na Europa.

segunda-feira, outubro 13, 2025

Uma vergonha nacional


Como cidadão português, voltei hoje a sentir vergonha, ao passar no inenarrável aeroporto de Lisboa, pelo incómodo que ali se faz passar às pessoas que utilizam as suas instalações. Em particular a quantos, oriundos do estrangeiro, acabam por ser, nos dias de hoje, responsáveis por parte importante da riqueza que o país recolhe.

Quisemo-nos ou transformámo-nos num país que se dedica a receber e a lucrar com os turistas estrangeiros. Eles chegam na TAP, hospedam-se nos nossos hotéis, comem nos nossos restaurantes, utilizam o nosso comércio. E, no entanto, à sua chegada a Portugal, são tratados da forma que a imagem mostra, como manadas humanas, mantidos em longas filas, que são ainda mais penosas para muitos que chegam depois de longas horas de voo. 

Encostadas a uma parede, constato há meses que jazem por ali umas dezenas de máquinas de leitura dos passaportes eletrónicos, novinhas em folha, pelos vistos sem o menor préstimo. Não funcionam, vá-se lá saber porquê. Quanto custaram? Não me digam que foram pagas por fundos europeus...

Ao fundo daquelas imensas filas de gente, lá estão os insuficientes funcionários daquilo a que já se chamou SEF e agora deve ter outro nome qualquer. E, pessoa a pessoa, longos minutos decorrem, até que  os tais turistas, ou gente que viaja muito simplesmente para aqui vir trabalhar, serem atendidos. Ou, já agora, nós, portugueses, que pagamos impostos, taxas e somos assim retribuídos no nosso contributo de cidadania.

Hoje foi assim. Depois de acabado o primeiro suplício, o dos passaportes (já tínhamos estado encafuados em autocarros, parados por longos minutos na placa), fomos obrigados, para receberem as malas, a atravessar um corredor longuíssimo, com um fluxo de gente em sentido contrário, o torna tudo muito incómodo. Nada de tapetes rolantes, de ser para ajudar à forma fîsica do pessoal! Depois de descer à sala de recolha de bagagens, tivemos que fazer um outro percurso, agora no sentido oposto. A nossa passadeira era a 13, logo por azar, lá no fundo da sala. Recebida a mala, volta-se outra vez para trás, até finalmente se sair. É a fase da busca de um taxi, na fila das chegadas. É o momento "siciliano" do dia, por razões que me abstenho de desenvolver.

Mas voltemos à questão do controlo dos passaportes. Um amigo, hoje como eu naquele ambiente de infuncionalidade, lembrava-me uma coisa simples: contrariamente a uma urgência hospitalar, que pode ter picos difíceis de prever, o número de pessoas e as horas a que os passageiros chegam a um aeroporto é a coisa mais previsível do mundo. Com antecedência, sabe-se os horários a que os aviões aterram, sabe-se, no essencial, quantas pessoas trazem, é possível conhecer, com forte aproximação, o número de passageiros que, numa determinada manhã ou tarde, se apresentarão às autoridades de fronteira. Então pir que não têm lá gente necessária para tornarem aquilo mais expedito? Desconfio, muito seriamente, que é por pura incompetência dos serviços "competentes". E, já agora, por falta de vergonha e de sentido de responsabilidade por parte quem que dirige aquilo. 

domingo, outubro 12, 2025

Carmine


Lembro-me de que era um tipo para o alto, no que se distinguia dos restantes contínuos que fiscalizavam os corredores do nosso liceu, lá por Vila Real, nos anos 60 de século passado. Em geral, era gente mais atarracada: o Rocha, o Marques, o Sousa, etc, além da menina Arminda que, quando a conheci, de menina já só tinha o titulo carinhoso. 

Esse contínuo chamava-se Carminé, nome que, por pouco vulgar, sempre me ficou na memória. O senhor Carminé, imagino que por uma bula excecional que lhe terá sido concedida por alguém do poder liceal, vendia, nos intervalos, num estreito balcão no início de uma nova ala entretanto construída no liceu, algum material de papelaria e, se não me engano, também chocolates, coisa um tanto bizarra para um comércio dedicado a material didático.

Do que é que eu havia de me lembrar no dia de hoje, aqui por Nova Iorque! E porquê? Porque ontem fui jantar a um restaurante que há bastantes anos conhecia de nome, mas que nunca tinha experimentado: o Carmine's. Como não me constava que o nosso velho contínuo tivesse migrado para a restauração em Manhattan, vim a constatar que a história deste espaço com ressonâncias italianas é bem outra. 

Nota de prova: o tinto da casa não era nada mau. E até se comeu bem.

Amália no Carnegie Hall


Foi emocionante ouvir em fundo a voz de Amália Rodrigues a cantar, na memorável noite de ontem, no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Parecia que ela estava ali, como há décadas esteve.

A Orquestra Sinfónica Portuguesa encheu aquele palco e trabalhou, com sonoridade criativa rara, as extraordinárias interpretações de Raquel Tavares, Ricardo Ribeiro e de Cristina Branco, que evocaram êxitos de Amália e alguns hits americanos.

Foi uma excelente festa de encerramento dos 40 anos da FLAD - Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Muitos parabéns!

sábado, outubro 11, 2025

Diane Keaton


Não sei qual é a cara de Diane Keaton que recordo mais. Sei que a vi em todas as suas idades, em muitos filmes, alguns magníficos (com Woody Allen, com "Annie Hall" no topo), outros assim-assim. Há muito que ela faz parte do meu arquivo íntimo da cinematografia americana. (E já sei que vou levantar um escarcéu ao dizer que nunca me pareceu ser uma atriz por aí além.) 

Keaton era, para mim, uma cara de Nova Iorque. Ligava a sua imagem e o seu estilo (irritavam-me os chapéus) a esta cidade onde, por um mero acaso da minha vida, estou hoje, agora e na hora da sua morte.

Recornu

 


sexta-feira, outubro 10, 2025

Olhe que não, olhe que não!

 


Está aí a chegar, no "24 Horas", um debate semanal de 24 minutos, sem moderador.

Parabéns, Maduro!

Parabéns a Nicolás Maduro! A útilma pessoa que Trump ajudará a subir ao poder na Venezuela é Corina Machado. Que perfídia do Comité Norueguês! 

Ó diabo!

Isto é muito esquisito! Está-me a acontecer cada vez mais. Entro numa livraria vejo e revejo estantes, descubro livros novos que me interessam, coisas magníficas, memórias sobre ou de gente cuja vida e obra me motiva, ensaios sobre assuntos de que preciso de saber mais, e, ao fim da meia hora de busca e folheanço, saio sem comprar rigorosamente nada. Que diabo se passa? Ainda há pouco tempo isto nunca me acontecia! Tenho uma suspeita: é que, no momento da tentação da compra, vêm-me à ideia as estantes atulhadas de livros por ler que tenho por Lisboa e por Vila Real, a vergonha íntima que foi ter lido, em férias, apenas dois dos cerca de vinte volumes que levei para a praia. Quase o mesmo número de livros que, em Lisboa, ocupam a parte superior da minha mesa de cabeceira (disse bem, superior; nas prateleiras inferiores devem estar outros tantos). Deve ser isso, a consciência de que toda o resto da minha vida, por muita que ela venha a ser, será sempre pouca para ler o muito que entretanto comprei e nunca conseguir ler. Estarei a ficar mais "sábio", mais razoável? Não, estou é a ficar velho! Essa é a única coisa "nova" em mim. Ou melhor, o que é verdadeiramente novo é eu atrever-me a confessá-lo.

Paz


Há uma palavra que se aplica à decisão do Comité Nobel de Oslo de ter resistido à incomensurável pressão a que foi sujeito por parte de um poderoso auto-designado candidato ao Prémio Nobel da Paz: dignidade. 

A palavra seria coragem se a nomeada tivesse sido Francesca Albanese.

Robert Badinter


Robert Badinter, que morreu em 2024, está depositado, desde ontem, no Panteão Nacional francês.

Poucas semanas depois de ter assumido funções como embaixador em Paris, fui apresentado a Robert Badinter. Disse-lhe então do prazer que tinha em conhecê-lo pessoalmente, pelo profundo respeito que a sua figura de retidão ética me inspirava, desde há muito. E, devo confessar, não há muitas pessoas a quem eu me sentisse tentado a dizer o mesmo.

Robert Badinter foi, durante quatro anos, ministro da Justiça de François Mitterrand. Foi então o proponente da medida legislativa que, em outubro de 1981 - faz, no dia de hoje, precisamente 36 anos - apresentou a lei que iria proibir a pena de morte em França. 

Tenho bem na memória a campanha de vilificação de que à época foi alvo, com acusações miseráveis, que o qualificaram como "o advogado dos assassinos".

Num tempo em que, um pouco por todo o lado, a política imediatista tende a esconder os princípios por detrás do populismo, vale a pena relembrar que Badinter soube conduzir a França para a linha da frente da defesa das liberdades - abolição dos tribunais militares, supressão do delito da homosexualidade, sujeição ao Tribunal europeu dos direitos do Homem, etc.

No seu livro de memórias, sugestivamente intitulado "Les épines et les roses", Badinter não deixa de notar que a democracia está longe de ser a reprodução mecanicista do sentimento popular: quase 2/3 dos franceses eram favoráveis à manutenção da pena de morte, no momento em que ela foi abolida. 

Liderar, politicamente, é também ter a coragem de tomar medidas impopulares, quando se entende que o bem público e os avanços civilizacionais as justificam.

Faz bem ao mundo ter homens com a retidão de Robert Badinter. É com pena que se constata que, em Portugal, o país que, no século XIX, foi saudado por Vitor Hugo pelo seu pioneirismo na abolição daquela sinistra pena, ainda emergem espécimens públicos, vergonhosamente protegidos, a preconizar a retoma daquela infâmia.

Que pena Badinter não ter tido o Prémio Nobel da Paz! 

quinta-feira, outubro 09, 2025

Nova Iorque, sempre


Desembarquei pela primeira vez em Nova Iorque em dezembro de 1972. Recordo uma cidade gélida, ventosa, com um sol sem calor. Mas tudo tinha então uma imensa graça: os esquilos do Central Park, que nos vinham comer à mão, os porteiros da Park e da 5ª Avenidas, fardados como generais soviéticos, as clássicas nuvens de vapor a sair do asfalto e aquele coro de ambulâncias e carros de bombeiros que ninguém me convence que não fazem parte de uma coreografia de som deliberadamente alimentada para animar o turismo.

Por essa época, eu já tinha viajado alguma coisa pela Europa, mas tudo aquilo era muito diferente. Era, claramente, um outro mundo, ou então era eu que o via como tal. Um mundo que, na minha imaginação, tinha bastante a ver com o cinema americano que conhecia, o qual funcionara como um "trailer" da América que eu ia começar a ver. O facto de ficar instalado, nessa semana, no Edison Hotel, onde tinham sido filmadas cenas de "O Padrinho", bem perto de Times Square, ajudava a adubar o mito. E, com vinte e poucos anos, como é sabido, os mitos fazem toda a diferença.

Percorri então a Nova Iorque de todos os clichés turísticos, que me abstenho de listar: foram esses mesmos em que estão a pensar. Até fui às Torres Gémeas, com uma delas ainda incompleta. Não adivinhava que, quase trinta anos depois, comigo então a viver em Nova Iorque, as duas seriam derrubadas numa terrível manhã.

Lembro-me de que, nesse inverno de 1972, eu usava um guia da TWA, que se referia a New York como a "porta da America", expressão que, nas diversas vezes que voltei aos States e em que lá vivi, constatei ser uma rotunda falsidade: Nova Iorque tem bastante pouco a ver com o resto do país. A cidade, na sua génese cultural e paisagen humana, parece às vezes bem mais próxima de alguma Europa do que do resto da América. 

Levava no bolso algum dinheiro: eram as minhas primeiras férias depois de um ano de funcionário da Caixa, emprego que não pagava mal. Nas viagens que, em anos anteriores, tinha conseguido fazer pelas capitais europeias, com bastantes menos posses, tinha aprendido a ser poupado, a "defender-me", na expressão cuidadosa do meu pai. Por isso, imagino que tenha feito poucas "extravagâncias", como à época se dizia. 

Tenho uma vaga ideia de uma ida a um clube de jazz, de ir comer pasta nuns italianos baratuchos, de ir a uns filmes proibidos na Times Square, de comprar, no sul de Manhattan, aqueles espetos orientais que deitam fuminhos com cheiro, iguais aos que então encontrávamos em casas de amigos que gostavam de armar a hippies ou modernaços. Para dar uma de sério, e também porque era mais barato, fui a uma peça de teatro "off Broadway", que detestei: saí convencido que isso se devia à minha incultura da época. O que era capaz de ser bem verdade. 

Trouxe muito poucos livros dessa ida a Nova Iorque (ainda tenho um dicionário Webster's e um magnífico World Almanac, este que se vendia por menos de um dólar), mas adquiri dois posters: um era a cara do Nixon, com a pergunta sobre se compraríamos um carro usado a um tipo com aquele aspeto (quem havia de dizer que, por contraponto atual, Nixon nos iria surgir hoje como um poço de virtudes). O outro poster, prenunciava a canção do Sérgio Godinho: "Today is the first day of the rest of your life". Ainda ontem, num velório, lembrei isso a um amigo que se interrogava, nostálgico, sobre o que irá ser o nosso futuro. Tentei ser realista: o futuro, seja ele o que vier a ser, é o lugar onde vamos passar o resto da nossa vida. Por isso, corações ao alto, que é como eu olho sempre para os jogos do Sporting.

Nessa primeira estada em Nova Iorque ("estada" é para pessoas, "estadia" é para barcos, sentenciaria, anos mais tarde, um chefe snob que tive no MNE), passei uma longa tarde na Biblioteca Pública de Nova Iorque, a fazer uma pesquisa bibliográfica sobre Lewis Carroll, a pedido do meu saudoso amigo Sérgio Moutinho, que andava então em Coimbra. Aproveitei o ensejo para ler ali, um pouco à pressa, porque é um calhamaço, mas ainda tomando notas, o "Missão em Portugal" do embaixador brasileiro Álvaro Lins, livro que estava proibidíssimo no nosso país, porque conta a saga de Humberto Delgado refugiado na missão brasileira. Até hoje, nunca me perdoei ter perdido essa tarde de sol numa biblioteca, nesses escassos primeiros dias na grande cidade. Um dia desperdiçado na nossa vida nunca mais se recupera. Asneiras da juventude.

Nova Iorque é uma cidade plana, ideal para se flanar a pé. Lembro-me de ter deparado, pelas ruas, com cenários que vira em filmes, com locais sobre os quais lera em livros ou em imagens nas páginas da "Time" ou da "Newsweek", as revistas que então nos revelavam o que julgávamos que era a América, a par da "Reader's Digest", essa a tentar endoutrinar-nos subliminarmente com a sua mensagem anti-comunista. 

Acabo de chegar hoje a Nova Iorque. Não obstante continuar com um trânsito infernal, talvez ajudado pelo "shutdown" dos serviços públicos, num caos urbano que quase nos reconcilia com Lisboa, a cidade continua um deslumbre. Mais para o turista que hoje sou do que para o diplomata que por aqui já fui, quando cá vivi ou estive em trabalho. É que o trabalho "destroi" as cidades. Convenci-me disso em Paris, em Viena e em Londres, onde, quando agora por lá me acontece passar, me divirto muito mais do que quando por ali trabalhei. Estou a escrever isto e a tentar convencer-me de que isto é a pura verdade. E, às tantas, não é: sempre fui um "workaholic" e, no fundo, o trabalho (mesmo o muito trabalho) deu-me sempre um imenso gozo. Ser um pouco masoquista ajuda bastante a contentarmo-nos com a vida, sabiam?

Mas, "prontos!", como dizem alguns, vamos lá gozar Nova Iorque, porque esta vida são dois dias, e agora até já começa a ser noite e tenho de sair para a uma rua agitada, que não espera por mim.

Os amigos de Delors

Hoje, na sessão de apresentação de um seu livro, em que revisita as quase quatro décadas da nossa integração europeia, em cuja primeira linh...